Certamente um dos eventos mais notórios e conhecidos da história bíblica foi o dilúvio. Desde o início da minha caminhada na fé sempre aprendi que o dilúvio foi um juízo de Deus sobre os homens pecadores. Deus os destruiu porque seus pecados eram terríveis, mas mesmo em meio ao juízo divino, um homem chamado Noé achou graça aos olhos de Deus, e por Sua misericórdia o Senhor o manteve vivo juntamente com sua família e a história humana pôde continuar. De fato, o dilúvio foi uma expressão de juízo sobre a humanidade, no entanto, por se tratar de uma manifestação de juízo, a maioria dos estudiosos do dilúvio, partem do princípio de que os habitantes da terra dos dias de Noé foram todos condenados ao inferno e que lá estão até os dias de hoje. Todavia quero levá-lo a descobrir algo extraordinário por trás deste juízo divino, o amor de Deus que deu oportunidade de resgate a todos os habitantes da terra que foram mergulhados no dilúvio. Antes de ser um derramamento de ira, o dilúvio, na realidade, foi um batismo de salvação!
Vamos iniciar nossa meditação em Gênesis.
“Então disse o Senhor: “Por causa da perversidade do homem, meu Espírito não contenderá com ele para sempre; e ele só viverá cento e vinte anos”. Naqueles dias havia nefilins na terra, e também posteriormente, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens e elas lhes deram filhos. Eles foram os heróis do passado, homens famosos. O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal. Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem sobre a terra; e isso cortou-lhe o coração. Disse o Senhor: “Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, os homens e também os animais grandes, os animais pequenos e as aves do céu. Arrependo-me de havê-los feito”. A Noé, porém, o Senhor mostrou benevolência.” Gn 6: 3-8 (NVI)
Por causa da perversidade no coração do homem, o Senhor Deus removeu o Espírito Santo da terra e limitou os anos de vida da raça humana. Deus olhou para o coração dos habitantes da terra e viu que “[…] toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal.” Ao ver a situação da humanidade Deus não ficou irado, nem mesmo “cuspiu” fogo lá no céu, não! A situação pecaminosa do homem cortou-lhe o coração! O texto diz que Ele se arrependeu de ter feito o homem. Então o Senhor anuncia o dilúvio.
A reação de Deus aos fatos ocorridos na terra e a perversidade no coração do homem não foi de ira, raiva ou destruição dos seres perversos. Sua reação foi de compaixão! Deus viu tudo isso e “Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem sobre a terra; e isso cortou-lhe o coração.” O sentimento expresso aqui por Deus em outras palavras foi este: seria melhor eu não ter feito o homem do que ter que ver no que ele se tornou. De certa forma o Senhor Deus estava assumindo a responsabilidade por aquilo que Ele estava vendo na terra. A situação em que o homem se encontrava cortou-lhe o coração. O que motivou Deus a enviar o dilúvio não foi um desejo de acabar com a raça dos seres perversos e fazê-los pagar por seus pecados no inferno, mas sim tomar uma atitude antes que fosse tarde demais para resgatar esse homem. Então, o Senhor anuncia o dilúvio.
O dilúvio revela sim um juízo pelo pecado, pois se o homem não se tornasse perverso de coração o dilúvio não seria necessário. Contudo, em face dos terríveis pecados dos homens, Deus envia o dilúvio como um instrumento e oportunidade de salvação e não como um juízo sem misericórdia. Em meio a toda aquela perversidade Deus conhecia a Noé, homem que andava com Ele. O Senhor fala com Noé e o ordena que construa uma arca a fim de preservar sua vida e de sua família, bem como das espécies dos animais.
O dilúvio vem sobre a terra e atinge toda raça humana, apenas Noé e sua família e os animais dentro da arca permaneceram vivos. Uma pergunta muito importante precisa ser respondida: para onde foram os mortos pelo dilúvio?
Eles foram levados ao lugar onde ficavam os mortos desde Adão, um lugar que em hebraico é chamado SHEOL e em grego, no novo testamento, é chamado de HADES. Há ainda outras expressões usadas para este mesmo lugar, como: abismo, sepultura, geena de fogo e lugar dos mortos, são todas expressões que se referem ao mesmo lugar. Antes da ressurreição de Jesus Cristo todos os que morriam eram levados para este mesmo lugar que era dividido em três partes.
O sheol ou hades era um lugar dividido em três partes: o seio de Abraão, o abismo e o lugar de tormento. Isso é revelado pelo Senhor Jesus em (Lc 16: 19-31). Jesus conta a história do rico e de Lázaro e revela que Lázaro foi levado ao seio de Abraão, que o homem rico foi levado ao lugar de tormento e que entre eles havia um abismo. Essa era a “região” onde todos os mortos ficavam, no entanto, os “justos” eram separados dos “condenados” por um abismo. O seio de Abraão era um lugar de paz, não de tormento. No seio de Abraão estavam todos os homens e mulheres de Deus que morreram na antiga aliança, Moisés, Abraão, Isaque, Jacó, Davi, Isaias, Jeremias, etc. Eles estavam neste lugar aguardando a vinda do Messias.
Portanto, os mortos pelo dilúvio foram levados ao sheol ou hades. Agora, observe esse relato revelado pelo apóstolo Pedro:
“Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão
que há muito tempo desobederam, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água, e isso é representado pelo batismo que agora também salva vocês — não a remoção da sujeira do corpo, mas o compromisso de uma boa consciência diante de Deus — por meio da ressurreição de Jesus Cristo,” 1 Pe 3:18-21 (NVI)
Após Sua morte física Jesus foi levado pelo Espírito Santo para pregar aos espíritos em prisão (v. 19)! Onde estavam os espíritos em prisão? Estavam no hades. Quem são estes espíritos em prisão? “[…] foi e pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída.” (v. 20) Os espíritos em prisão são as pessoas que passaram pelo dilúvio nos dias de Noé. Após sua morte na cruz Jesus desce à região dos mortos e prega aos espíritos em prisão, a todos os que morreram no dilúvio. Todos aqueles homens tiveram uma nova chance com a morte de Jesus Cristo. O dilúvio não veio para condenação eterna, mas como instrumento de salvação.
O texto de Pedro continua mostrando que na ocasião do dilúvio apenas oito pessoas foram salvas por meio da água, observe:
“[…]Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água, e isso é representado pelo batismo que agora também salva vocês[…]
Naquela ocasião apenas Noé e sua família foram salvos, no entanto, eles não mergulharam nas águas. Pedro afirma que o dilúvio era um tipo do batismo nas águas que agora estava sendo praticado pelos salvos em Cristo. Ora, se o dilúvio era uma figura do batismo, então não foi Noé quem participou dele. Quem foi batizado ou mergulhado naquela ocasião foram os que estavam fora da arca. O que Deus fez com o dilúvio foi promover um batismo universal a fim de dar oportunidade em Cristo de salvação a todos os homens. Esta oportunidade veio quando Jesus desceu a hades pregar aos espíritos em prisão.
Aquele povo que passou pelo dilúvio foi salvo pela morte e ressurreição do Senhor Jesus. Veja essa passagem que Paulo escreve aos efésios:
“Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens. Ora, isto– ele subiu – que é, senão que também antes tinha descido às partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas.” Ef 4:8-10 (NVI)
Paulo afirma que quando Jesus subiu em triunfo às alturas, ou seja, quando Ele ressuscitou, levou com Ele o cativeiro, levou cativo o cativeiro. O que é este cativeiro? São todos aqueles espíritos em prisão (1 Pe 3: 19) que estavam no hades. Quando Jesus sobe do lugar dos mortos em ressurreição todos aqueles que creram em sua pregação no hades subiram com Ele ao céu. Isso é impressionante! De onde Paulo tirou base para afirmar isso? No versículo 8 de Efésios capítulo 4, Paulo cita o Salmo 68: 18. Paulo cita apenas uma parte deste Salmo. Observe o versículo 18 completo no Salmo 68:
“Quando subiste em triunfo às alturas, levaste cativo muitos prisioneiros; recebeste homens como dádivas, até mesmo rebeldes, para estabeleceres morada, ó Senhor Deus.” Sl 68:18 (NVI)
Esse versículo é uma profecia acerca da ressurreição de Jesus e que quando isso ocorresse Jesus levaria com Ele muitos prisioneiros. Pedro em sua carta revela que Jesus foi e pregou aos espíritos em prisão. Este salmo nos mostra que os espíritos em prisão fazem parte do grupo que ressuscitou com Jesus. O salmo inclusive revela que até mesmo os rebeldes subiram naquele dia. Pedro também deixa esse detalhe de que os que ouviram a pregação de Jesus no hades foram os que haviam sido desobedientes à pregação de Noé.
Sem dúvidas aqueles homens que passaram pelo dilúvio foram salvos pela pregação de Cristo. Talvez nem todos eles tenham subido em triunfo ao céu, a escritura não revela quantos subiram com a ressurreição de Jesus, mas nos revela que muitos homens cativos subiram com Ele do lugar dos mortos.
O dilúvio foi um instrumento de Deus para salvar a humanidade daqueles dias. O dilúvio foi, na verdade, um batismo de salvação.
Há o testemunho de outro Salmo com referência a salvação daqueles que estavam na região dos mortos.
“Será que o teu amor é anunciado no túmulo, e a tua fidelidade, no Abismo da Morte? Acaso são conhecidas as tuas maravilhas na região das trevas, e os teus feitos de justiça, na terra do esquecimento?” Sl 88: 11-12 (NVI)
Sim! O amor de Deus foi anunciado também nas regiões dos mortos! As maravilhas do Senhor e Sua justiça foram pregadas na terra do esquecimento. O Senhor Jesus foi e pregou aos espíritos em prisão e aqueles que creram entraram para a eternidade pela ressurreição dos mortos.
Dessa forma, Deus salvou os que outrora deixaram seus corações ser entregues a perversidade. Deus “forçou” um batismo universal a fim de salvar os homens corrompidos por meio da morte de Jesus. Por este motivo é que Noé e sua família se mantiveram vivos, pois da descendência de Noé veio o Messias que salvou a todos. De nada adiantaria um dilúvio como plano de redenção se Jesus não viesse à terra. O plano de Deus sempre é perfeito.
Na realidade, o dilúvio revela o amor de um Deus extraordinário que sempre está disposto a salvar os homens. O dilúvio foi um batismo de salvação para a glória de Deus e resgate dos homens.
Com amor, Pr. Edimar Brandelero